O Papa Leão XIV ascendeu ao papado nesta quinta-feira sem um histórico público significativo sobre questões LGBTQIA+, uma preocupação central de seu antecessor, o Papa Francisco, bem como uma fonte de profundo conflito entre católicos liberais e conservadores.
Mesmo assim, defensores de uma maior inclusão de pessoas gays e transgênero na Igreja disseram estar cautelosamente otimistas, mesmo que não saibam muito sobre o homem que agora liderará os 1,4 bilhão de católicos do mundo. Até hoje, poucas pessoas acreditavam que um papa americano fosse uma possibilidade.
— Estamos aqui pesquisando tudo o que conseguimos sobre o novo papa no Google — disse Francis DeBernardo, que dirige o New Ways Ministry, um grupo sediado em Maryland que promove a inclusão LGBTQIA+ na Igreja. — Acho que ele é o melhor que poderíamos esperar.
O reverendo James Martin, jesuíta, escritor e conhecido defensor da aproximação com católicos LGBTQIA+, disse que ficou — surpreso — com a escolha de um americano, mas que — se alegrou com a seleção — do novo papa, com quem já havia se encontrado socialmente no passado.
— Eu o conheço como um sujeito pé no chão, gentil, modesto, reservado, trabalhador, decisivo, e que não tem medo de dizer o que pensa — disse o padre Martin em um comunicado. — É uma ótima escolha
O Papa Francisco foi elogiado por admiradores por sua abertura para com membros da comunidade LGBTQIA+, seu apoio àqueles que lhes ofereciam ministério e orientação espiritual, e pelas formas como mudou o tom da Igreja — mesmo que nem sempre sua doutrina — sobre questões de gênero e sexualidade.
O Papa Leão passou a maior parte de sua carreira no interior do Peru e nunca atraiu grande atenção por suas posições sobre essas questões. Mas relatos de que ele teria feito comentários pontuais no passado criticando pessoas gays e trans deixaram alguns membros da comunidade LGBTQIA+ lendo os sinais com apreensão na quinta-feira.
DeBernardo disse acreditar que os católicos LGBTQIA+ deveriam adotar uma abordagem de — esperar para ver — em relação ao Papa Leão, que, segundo ele, nunca apareceu no radar de sua organização, que há anos acompanha de perto as posições de líderes da Igreja.
Ainda assim, ele disse que era preocupante que Leão tenha feito comentários desfavoráveis no passado, incluindo um discurso de 2012 no qual criticou a representação positiva do — estilo de vida homossexual — na mídia ocidental, dizendo que ela promovia — simpatia por crenças e práticas que estão em desacordo com o Evangelho.
Mas DeBernardo afirmou que o mundo é diferente hoje do que era em 2012, quando a oposição a muitos elementos dos direitos das pessoas LGBTQIA+ ainda era bastante difundida. O presidente Barack Obama, por exemplo, anunciou naquele ano que havia mudado sua posição e passou a apoiar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. — Muita coisa pode mudar em 13 anos — disse DeBernardo.
— Quando Francisco foi eleito, imediatamente veio à tona que ele havia se oposto ao casamento igualitário na Argentina com termos bastante fortes — lembrou DeBernardo. — Então, em relação aos comentários que o Papa Leão fez sobre o ‘estilo de vida homossexual’, esperamos que, nesses 13 anos que se passaram, talvez ele tenha se aberto um pouco mais sobre essas questões.
Durante esse período, o Papa Leão saiu de uma região rural no norte do Peru e foi para o centro de Roma, onde comandou um departamento do Vaticano que ajudava o Papa Francisco a avaliar e nomear um número significativo de bispos, muitos dos quais são vistos como apoiadores da inclusão LGBTQIA+ na Igreja. Ele também é natural de Chicago e tem fama de ser próximo ao cardeal Blase Cupich, de Chicago, que muitos consideram um dos cardeais mais abertos da Igreja nos Estados Unidos
Esses indícios, DeBernardo reconheceu, não representam um endosso claro a nenhuma posição específica.
— Se eu tivesse que prever algo, eu diria que ele não vai reprimir a aceitação LGBTQIA+, mas provavelmente também não vai apoiá-la da mesma forma que Francisco apoiou — disse ele. — Não acho que isso vá fazer parte ativa da agenda de Leão.
Brian Flanagan, teólogo católico do Centro Berkley para Religião, Paz e Assuntos Globais da Universidade Georgetown, disse que Leão — não me parece um papa que vá retroceder nas coisas.
Flanagan afirmou que as primeiras declarações do novo papa foram especialmente animadoras por abraçarem a sinodalidade, uma forma de governo da Igreja favorecida por Francisco e que inclui a participação de leigos.
— Para mim, a sinodalidade é realmente importante porque cria uma estrutura pela qual toda a Igreja Católica pode ouvir as vozes dos católicos LGBTQIA+ — disse ele. — Espero que isso ofereça espaço para que a Igreja Católica continue a conversar sobre como a sexualidade e o gênero podem ser mais complexos do que costumávamos pensar.
Michael Sennett, estudante de mestrado em cuidado pastoral na Universidade Fordham, fez parte de uma delegação de pessoas transgênero e intersexo que viajou a Roma em outubro passado para uma audiência com o Papa Francisco. Sennett disse ter ficado profundamente tocado pela saudação emocionada do novo papa à multidão no Vaticano nesta quinta-feira.
— A maneira como o Papa Leão se emocionou hoje ao estar naquela sacada, entregando uma mensagem de amor e unidade — isso me lembrou muito o espírito que senti quando estive em Roma para conhecer o Papa Francisco — disse ele. — Acho que a Igreja continua em boas mãos.
A escolha do nome papal por Leão também parece indicar que ele continuará a abordagem pastoral de Francisco, que dedicou seu papado a alcançar pessoas à margem da sociedade, afirmou o padre Martin. O nome do novo papa parece ser uma homenagem ao Papa Leão XIII, pontífice do século XIX que lançou as bases para a doutrina social católica, que enfatiza a preocupação com o bem-estar dos doentes e dos pobres.
Mas, por mais que o nome aponte para um interesse pela justiça social, ele também pode indicar um foco nas questões que importam para pessoas em países pobres ou devastados por guerras, onde os direitos LGBTQIA+ não estão entre as prioridades, disse DeBernardo.
Há uma ironia, acrescentou ele, na ideia de que o primeiro papa americano talvez seja também um pontífice menos preocupado com os temas das guerras culturais americanas.
— Para muitos bispos ao redor do mundo, suas principais preocupações são coisas como refugiados e fome, e as questões LGBTQIA+ simplesmente não são uma preocupação premente para o seu povo — afirmou.
Skip the extension — just come straight here.
We’ve built a fast, permanent tool you can bookmark and use anytime.
Go To Paywall Unblock Tool