Em um fracasso histórico, inédito no período pós-guerra, Friedrich Merz não alcançou a maioria simples no Parlamento para se tornar primeiro-ministro da Alemanha. Nesta terça-feira (6), em Berlim, o Bundestag lhe deu apenas 310 votos, 6 a menos do que o necessário, apesar de sua coalizão de governo somar 328 parlamentares. A votação para premiê é secreta.

O resultado, absolutamente inesperado, fez a Bolsa alemã despencar e os analistas políticos correrem atrás de explicações. Na média das avaliações, ainda que não seja algo irreversível, demonstra a fragilidade do acordo do conservador da aliança CDU/CSU com os sociais-democratas do SPD, partido do ainda primeiro-ministro, Olaf Scholz, que lamentou o ocorrido em sua primeira manifestação sobre o caso: "Absurdo".

Merz enfrentará uma segunda rodada de votação durante a tarde e, caso não obtenha a maioria novamente, precisará apenas de uma maioria relativa para se tornar o chefe de governo da maior economia europeia. Na segunda hipótese, porém, qualquer parlamentar poderia apresentar candidatura e concorrer ao cargo. Envolveria, no entanto, uma complicada negociação entre os partidos de oposição, algo improvável.

Partidos e Parlamento passaram as últimas horas discutindo o caso. A última informação é que Merz se submeterá a um segundo turno ainda nesta terça-feira (6). "Sem dúvida, esta é uma situação especial", admitiu Jens Spahn, líder da CDU no Parlamento. "Toda a Europa, talvez o mundo inteiro esteja acompanhando esta eleição."

De acordo com a Constituição, a única obrigação é a votação ocorrer em até 14 dias.

Visivelmente surpreso após a votação, o conservador se reuniu com a aliança que lidera, CDU/CSU, para tentar entender o que tinha se passado. O líder do SPD, Lars Klingbeil, que tinha garantido votação unânime do partido no dia anterior, voltou a assegurar que a bancada social-democrata havia cumprido o combinado.

Outras siglas também se manifestaram. Parlamentares dos Verdes lamentarem que o novo governo começava de maneira melancólica, o que era ruim para a Alemanha, enquanto deputados da AfD preferiram espezinhar diretamente Merz. "Mostra a fundação fraca sobre a qual foi construída essa coalizão", declarou Alice Weidel, líder do partido de extrema direita.

Merz, 69, foi o vencedor das eleições legislativas de 23 de fevereiro e é visto com esperança em uma Europa desorientada pela política diplomática do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Mesmo antes de ser nomeado, Merz já enfrentava a irritação de uma parte de seu eleitorado conservador, por flexibilizar ainda no Parlamento antigo o freio da dívida, a versão local do texto de gastos. A manobra encerrou décadas de austeridade fiscal, marca de Angela Merkel, sua nêmesis entre os democratas-cristãos. A Alemanha se prepara para gastos sem precedentes no setor de defesa e terá € 500 bilhões em dez anos para recuperar a defasada infraestrutura do país.

Dos 328 votos existentes na coalizão, ao menos 18 foram negados ao conservador. Isso depois de a aliança CDU/CSU de Merz ter assinado o acordo com o SPD na véspera, quando os partidos apresentaram seus ministros e comentaram sobre os primeiros atos de governo.

Merz estava tão certo de obter o cargo que já havia marcados seus primeiros compromissos internacionais para esta quarta (7) na França e na Polônia, relacionados às celebrações dos 80 anos do fim da Segunda Guerra na Europa.

Alemanha: Merz falha na 1ª votação para primeiro-ministro - 06/05/2025 - Mundo - Folha


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