Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltaram a ocupar a avenida Paulista para uma manifestação, neste domingo (6), para reivindicar anistia para os condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023 e pedir "fora, Lula", listando críticas ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O PL, partido de Bolsonaro, defende um projeto de lei na Câmara dos Deputados e pressiona para que o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), paute a votação que beneficiaria os acusados.
Bolsonaro chegou pouco antes das 14h e foi o último a falar. Em um longo discurso, o ex-presidente criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ironizou a manifestação da esquerda, uma semana antes, também na avenida Paulista, contra anistia e pedindo a sua prisão. "Contra a anistia, eles já perderam essa guerra”, ele afirmou.
Depois, o ex-presidente chamou Lula indiretamente de “vagabundo” e disse que não cometeu nenhum “desvio de conduta” para ir para a cadeia.
Bolsonaro também explorou o caso da cabeleireira Débora Rodrigues, participante condenada pelo 8 de janeiro que ficou conhecida por ter usado um batom para pichar a estátua que simboliza a Justiça na praça dos Três Poderes. O ex-presidente disse que ela teve “uma pena absurda por um crime que ela cometeu”.
Também criticou a decretação de penas para outras pessoas envolvidas no 8 de janeiro, como um pipoqueiro, que está em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Bolsonaro chegou a ler uma frase em inglês sobre o assunto, na tentativa de atrair atenção internacional.
Repetindo as alegações de que pode ser morto na prisão, Bolsonaro afirmou, em alusão aos ministros do STF, que eles colocaram “esse vagabundo na Presidência”, em referência a Lula. O ex-presidente sustenta a narrativa sem provas de que os magistrados foram responsáveis pela eleição do petista.
"Se acham que eu vou desistir, que eu vou fugir, eles estão muito enganados", discursou, acusando "os canalhas" de quererem matá-lo e relembrando feitos de seu governo que avalia como positivos. "Mostramos para vocês as entranhas do poder", disse aos apoiadores.
Bolsonaro também repetiu que eleições em 2026 sem ele na urna não serão democráticas e voltou a questionar o sistema eleitoral brasileiro, pedindo urnas auditáveis.
O caso da cabeleireira Débora Rodrigues, participante condenada pelo 8 de janeiro que ficou conhecida, entre outros crimes, por ter usado um batom para pichar a estátua que simboliza a Justiça na praça dos Três Poderes, foi um dos motes do ato.
Músicas citavam a situação da cabeleireira, falando em injustiça e perseguição, inclusive com trechos cantados em inglês para buscar repercussão internacional. Manifestantes levaram réplicas de batons — um modelo inflável foi erguido perto do caminhão de som onde os políticos falaram — e fizeram alusão ao caso em cartazes e camisetas, com expressões como “revolta do batom”.
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro fez um discurso centrado no caso Débora e apelando às mulheres. Em certo momento, ela tirou um batom do próprio bolso, e convidou as apoiadoras a fazerem o mesmo. "Levantem os seus batons", disse, com o seu em riste.
O ato deste domingo teve a presença de sete governadores: Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo; Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais; Ratinho Junior (PSD), do Paraná; Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina; Wilson Lima (União), do Amazonas; Ronaldo Caiado (União), de Goiás; e Mauro Mendes (União), de Mato Grosso.
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), que era esperado no protesto em São Paulo, cancelou a presença por causa das fortes chuvas no Estado que administra. Além de dezenas de parlamentares bolsonarista, o ato reuniu figuras como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB).
Os manifestantes, muitos vestidos de verde e amarelo, entoaram coros de “não houve golpe”. Bolsonaro, anunciado como "o ex mais amado do Brasil", entrou por um corredor no meio da multidão rumo ao caminhão de som, acompanhado de Tarcísio, que é visto como potencial candidato da direita à Presidência em 2026, na ausência do ex-mandatário.
Governadores, senadores e deputados aliados a Bolsonaro usaram o ato para pressionar Hugo Motta a pautar a votação do projeto de lei da anistia.
Líder do PL na Casa, o deputado Sóstenes Cavalcante (RJ) disse em seu discurso que já reuniu 162 assinaturas de parlamentares, das 257 necessárias, em apoio ao projeto. Segundo ele, a partir desta segunda (7) serão publicados os nomes e as fotos dos que já se engajaram na pauta, bem como dos que ainda não se comprometeram.
Também presente no ato, o vice-presidente da Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ), disse que Motta será pautado pela maioria dos deputados e questionou, publicamente, aos governadores presentes se os seus partidos apoiavam a anistia. Tarcísio de Freitas (Republicanos) de São Paulo, Ronaldo Caiado (União Brasil) de Goiás, e Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, estão entre os que responderam "sim".
O pastor Silas Malafaia, organizador do evento, também pressionou Motta e disse que ele orientou os líderes partidários a não assinarem o pedido de urgência ao projeto. O pastor disse ainda que o presidente da Câmara dos Deputados “está envergonhando o povo da Paraíba”.
“A esquerdalha veio aqui na semana passada [na avenida Paulista] e colocou meia dúzia de gatos pingados para falar contra essa pauta [anistia], que é justiça para os injustiçados”, disse Sóstenes.
O presidente da Câmara, na última semana, conseguiu resistir à ofensiva bolsonarista para pautar o tema. Ele já sinalizou que manterá o assunto em banho-maria, na expectativa de que o próprio STF decida revisar penas de condenados do 8/1, uma vez que há vozes dentro da corte levantando essa possibilidade. A avaliação é que essa seria solução ideal, já que levar à votação chamado “PL da Anistia” poderia representar uma afronta às decisões do STF e abrir um novo capítulo da crise institucional entre os Poderes.
O PL enfrentou percalços na estratégia que traçou na Câmara para empurrar a proposta, na semana passada. Sem apoio dos principais líderes partidários, o partido passou a coletar assinaturas individuais dos parlamentares. Os 257 apoios pretendidos representam a maioria absoluta na Câmara, mas não garantem que o projeto seja incluído na pauta. Com esse número, um requerimento poderá ser protocolado para avisar ao presidente que o texto está pronto para ser votado. Motta, no entanto, não é obrigado a colocar a matéria em votação.
Bolsonaro, que está inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tornou-se réu no STF após denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) que apontou participação dele em uma organização criminosa que planejou um golpe de Estado no Brasil em 2022.
A manifestação em São Paulo ocorre depois de ato semelhante realizado na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, no último dia 16, também com a participação de aliados. Há exatamente uma semana, no dia 30 de março, foi a esquerda que usou a avenida Paulista para um protesto contra a anistia e pela prisão de Bolsonaro por seu envolvimento na trama para dar um golpe e impedir a posse de Lula.
Pesquisa do instituto Datafolha divulgada neste fim de semana aponta que apenas 28% do eleitorado considera que Bolsonaro deveria manter sua pré-candidatura à Presidência em 2026, enquanto 67% dizem que ele deveria desistir e apoiar outro nome.
Já uma pesquisa da Quaest, também deste domingo, mostrou que 56% dos brasileiros são contrários à anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro, enquanto 34% defendem que o grupo seja solto (ou porque a prisão nem deveria ter ocorrido, ou porque já está preso há tempo demais). O restante (10%) não sabia ou não respondeu.
Em discurso no ato, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), classificou a anistia aos condenados como uma "pauta política, humanitária e urgente" e cobrou o Congresso. “Será que está correto, que as penas estão razoáveis? Está errado”, ele afirmou.
Tarcísio também reivindicou segurança jurídica no país, emendando críticas à inflação de alimentos. “Se está tudo caro, volta, Bolsonaro”, disse, puxando um coro da manifestação.
“A injustiça não vai prevalecer, e o senhor vai voltar”, afirmou Tarcísio, que tem dito publicamente que concorrerá à reeleição em São Paulo e que apoia Bolsonaro para 2026 — apesar de o ex-presidente estar inelegível até 2030 e, recentemente, ter se tornado réu por tentativa de golpe de Estado.
Ao discursar, Tarcísio disse crer que “Deus vai tocar o coração de cada parlamentar” para votar sim pela anistia.
Ele também contestou a ideia de que conceder anistia abriria precedente e citou outros episódios de perdão na história do Brasil. Tarcísio afirmou ainda que “pedir anistia não é uma heresia”, mas "algo justo", e quer prisão para quem invade terra, é corrupto ou rouba um celular. “Esses caras têm que ficar na cadeia. Eles que estão na prisão”, disse o governador.
Tarcísio já havia participado de ato semelhante realizado na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, no último dia 16, e, na ocasião, classificou os réus de 8 de janeiro como "inocentes que receberam penas desarrazoadas". A fala gerou desgaste do governador com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Tarcísio tem bom trânsito na Corte e, apesar da aliança com Bolsonaro, é visto como um político mais moderado.
Partiu de Malafaia, além disso, o discurso mais duro contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a quem chamou de “covarde, cínico, mentiroso e manipulador”.
"Ministros do STF, até quando vocês vão respaldar o ditador da toga Alexandre de Moraes?", disse, acrescentando que o ministro está "jogando na lata do lixo" a reputação da corte. Os manifestantes responderam gritando “fora, Moraes”.
Em outro recado aos ministros, Malafaia disse que "o povo é o supremo poder". "Não brinquem com um povo pacífico", disse, ao citar a possibilidade de prisão de Bolsonaro. "Se os senhores prenderem Bolsonaro, o que é que pode acontecer no Brasil? Pode não acontecer nada, mas pode acontecer tudo. Vamos buscar um caminho de justiça e paz."
O evento reuniu 44,9 mil pessoas, segundo o "Monitor do Debate Político" da USP. O público foi maior que o ato semelhante realizado na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, no último dia 16 de março (com 18,3 mil pessoas), mas bem abaixo da manifestação realizada em fevereiro de 2024 na avenida Paulista, também com o mote da anistia, quando compareceram 185 mil apoiadores do ex-presidente.
Já o Datafolha apontou a presença de 55 mil pessoas neste domingo na Paulista. No mês passado, o instituto estimou em 30 mil pessoas o público em Copacabana. Os organizadores do ato bolsonarista não divulgaram número próprio, mas questionaram os levantamentos divulgados, afirmando que estão subestimados. Lideranças afirmaram nos últimos dias que esperavam até 1 milhão de pessoas.
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