Brasileiro apontado como marido de espiã russa foi visto pela última vez na Malásia


The article details the disappearance of Gerhard Daniel Campos Wittich, identified as the husband of a suspected Russian spy, last seen in Malaysia after leaving Brazil.
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Um homem que viveu no Rio de Janeiro e é apontado como marido de uma espiã russa foi visto pela última vez na Malásia, em 9 de janeiro deste ano, após ter deixado o Brasil em 30 de dezembro de 2022. Trata-se de Gerhard Daniel Campos Wittich, que se apresentava como um austro-brasileiro, e seria companheiro de Irina Alexandrovna Smireva, que atendia pelo nome falso de Maria Tsalla e atuava em território grego. Os dois foram identificados na semana passada pelo Serviço Nacional de Inteligência da Grécia (EYP) como um casal que supostamente fazia espionagem para o governo da Rússia.

Embora formassem um casal, Daniel Campos e Maria Tsalla mantinham outros relacionamentos nos países em que atuavam. Ela morava em Pagrati, na Grécia, desde 2018, e deixou o país em 5 de janeiro, após avisar aos contatos locais que iria passar alguns dias em sua terra natal para tratar de assuntos familiares. Nunca mais voltou. Nesta mesma altura, Daniel Campos também partiu da Malásia, antes da data prevista. Os paradeiros atuais de Daniel e Maria Tsalla são desconhecidos.

Daniel era morador do Rio de Janeiro, tinha um estabelecimento comercial de impressão 3D localizado no Centro, e se relacionava com uma brasileira. Após passar dias sem contato, na Malásia, ele avisou à companheira que vive no Rio para não procurá-lo mais.

De acordo com o The Guardian, os serviços secretos russos chamaram Daniel e Maria Tsalla de volta ao país. A dupla teria sido convocada após a prisão - no início de dezembro do ano passado - de um casal de espiões em Ljubljana, capital da Eslovênia, que também tinha vivido na América do Sul. Conforme o jornal inglês, a suspeita é de que Daniel e Maria Tsalla ficaram com medo de uma delação por parte do casal detido em território esloveno.

O último paradeiro de Daniel Campos foi descoberto por iniciativa da namorada que ele tinha no Brasil. O GLOBO apurou que a mulher entrou em contato com a Embaixada do Brasil na Malásia em janeiro deste ano, após passar alguns dias sem ter notícias de Daniel. Ele havia embarcado em dezembro de 2022 para Kuala Lumpur com a alegação de que iria fazer um curso relacionado à sua atividade empresarial no Rio.

A namorada brasileira não soube fornecer o nome do curso para as autoridades, que não conseguiram determinar se ele chegou a se matricular ou não.

No dia 16 de janeiro, a pedido da namorada de Daniel no Rio, uma brasileira residente na Malásia fez uma publicação pedindo ajuda para localizar Daniel Campos em um grupo de Facebook. Segundo o post, o austro-brasileiro informou a familiares e amigos que iria de táxi para a região de Cameron Highlands e para a cidade de Ipoh. Por serem pontos turísticos, a brasileira fez contato com agências e empresas de camping, mas nenhuma delas tinha registro do nome de Daniel Campos.

Acionada pela namorada brasileira de Daniel Campos, a embaixada entrou em contato com o hotel e confirmou que ele esteve hospedado no local, de acordo com uma fonte do Itamaraty que falou com o GLOBO na condição de anonimato. A conta tinha sido paga, mas Daniel havia partido antes do dia previsto.

Espiã russa vivia desde 2018 disfarçada na Grécia Maria Tsalla evitava mostrar o rosto completamente em fotos nas redes sociais

A representação brasileira na Malásia fez contato com a polícia, o Serviço de Imigração e com o Ministério das Relações Exteriores do país. As autoridades locais confirmaram que Daniel Campos passou pela imigração do aeroporto internacional de Kuala Lumpur em 9 de janeiro, mas não souberam informar o destino dele. A averiguação desta informação dependia de uma checagem com todas as companhias aéreas e isso seria possível apenas com ordem judicial.

Procurada pelo GLOBO, a Polícia Real da Malásia pediu para que o contato fosse feito com a Polícia Federal brasileira, para que ela acionasse a Interpol “para resolver crimes internacionais”. A PF e o Itamaraty não responderam aos pedidos de informação sobre o caso feitos pelo GLOBO. A Embaixada da Rússia no Brasil não deu retorno.

Daniel Campos se apresentava como um um autro-brasileiro. Mas sua cidadania austríaca não foi confirmada pelas autoridades do país europeu. Uma reportagem do jornal inglês The Times diz que ele vivia no Brasil com uma identidade falsa.

Questionada sobre a nacionalidade de Daniel Campos, a Direção do Serviço de Proteção e Inteligência do Estado da Áustria informou ao GLOBO que é responsável pela "contra-espionagem" e "monitora as atividades de espionagem muito de perto". Mas não poderia fornecer nenhuma informação concreta sobre esta questão.

A reportagem também pediu um posicionamento para a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sobre a possível presença de um espião russo no país. A Abin respondeu que não irá comentar o assunto.

O caso começou a ser revelado quando o Serviço Nacional de Inteligência da Grécia (EYP) detectou uma tentativa de acesso aos dados de cidadãos gregos falecidos. Essa prática é internacionalmente atribuída aos Serviços de Inteligência da Rússia e remonta aos tempos de Guerra Fria.

Os dados de cidadãos mortos seriam usados para criar identidades falsas destinadas a espiões russos. Maria Tsalla teria se apropriado, em 2018, dos documentos de uma criança grega morta em dezembro de 1991. Ela teria pago cerca de 5 milhões de euros em 2018 pela nova identidade.

Mulher apontada como espiã russa visitou o Brasil e esteve no Rio e em Ouro Preto Maria Tsalla também passou por Arraial do Cabo e Petrópolis; fotos estão em suas contas na rede social

Ao chegar à Grécia, em meados de 2018, Maria Tsalla dizia a vizinhos e conhecidos ser uma "brasileira de origem grega", segundo o jornal Kathimerini. Aos amigos, a mulher, que abriu uma loja de crochê em Atenas e também se apresentava como fotógrafa, alegava ter decidido mudar-se para o país europeu e ter vendido seus bens no Brasil.

— Fui atraído pela loja dela (Galazio), porque era bastante... alternativa. Eu estava pensando, como essa loja consegue sobreviver? Todo esse tempo ninguém jamais havia entrado nela. Então, quando fechou em janeiro, não me impressionou — disse ao canal de televisão grego SKAI a ex-ministra grega Milena Apostolaki, que era vizinha de Tsalla e conhecia a jovem espiã. — Ela era uma garota comum que não a impressionava. Estamos todos confusos.

A conta de Maria Tsalla no Facebook e no Instagram segue aberta. Nela, é possível ver fotos da espiã. Em todas, no entanto, ela oculta parte do rosto. Há registros de passagens dela pelo Brasil, nas cidades de Ouro Preto (MG) e do Rio de Janeiro, Arraial do Cabo e Petrópolis. Algumas postagens foram curtidas por perfis da empresa de Daniel Campos, que não tem, no momento, página própria nas redes sociais.

Funcionários da empresa de Daniel Campos disseram ao Globo que estão "chocados" e tentando entender o que está acontecendo. Eles não quiseram gravar entrevista.

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