Todos vivemos imersos em emoções. Elas surgem após uma experiência sensorial, como o medo ao avistar uma cobra ou o prazer no odor de uma flor. Muitas duram mais do que gostaríamos, como algum medo que se transforma em ansiedade crônica. Outras duram menos do que gostaríamos, como uma paixão avassaladora. Na maioria dos casos podemos identificar sua origem, mas desconhecemos os mecanismos que garantem sua permanência na mente. Agora, um grupo de cientistas descobriu o que dá sobrevida a esses sentimentos poderosos.
É quase impossível estudar emoções sem se comunicar com a mente que as sente. Por isso, o estudo foi feito em seres humanos. Por outro lado, é impossível investigar diretamente o que acontece com os neurônios humanos, o que só é possível usando animais.
Para resolver esse dilema, os cientistas desenvolveram um modelo em que uma mesma emoção pode ser estudada em ratos e seres humanos. O experimento consiste em soltar um pequeno jato de ar comprimido diretamente na córnea de voluntários humanos, ou de ratos, e estudar a reação. Além disso, o que acontece nos neurônios após o estímulo foi extensamente estudado nos ratos e confirmado em humanos.
Ratos e humanos reagem ao jato de ar fechando os olhos e tentando desviar a cabeça. Mas, o desconforto persiste por segundos após o estímulo ser interrompido. Os olhos continuam fechados e a sensação desagradável, reportada por humanos, persiste por alguns segundos até que a coragem de abrir os olhos volta. Essa demora também acontece nos ratos.
Usando ratos, os cientistas implantaram eletrodos em milhares de células do cérebro e monitoraram sua atividade. No momento em que o jato de ar atinge a córnea, neurônios de diversas áreas são ativados imediatamente. Mas, quando o estímulo desaparece, e as pessoas ainda reportam medo e desconforto, um novo padrão da atividade se propaga por todo o cérebro dos ratos.
Para confirmar que isso também ocorre em seres humanos, os cientistas convenceram pessoas que iriam se submeter a operações no cérebro para inativar focos de epilepsia a se submeter ao mesmo experimento. Nessas operações a pessoa é anestesiada para que o crânio seja aberto, e em seguida é acordada. Aí o cirurgião localiza o foco da epilepsia e inativa essa região. Esses pacientes concordaram em receber jatos de ar no olho durante a cirurgia e permitiram que os cientistas monitorassem diretamente seu cérebro. Como cada paciente tem o foco da epilepsia em um local diferente do cérebro, os cientistas puderam examinar a atividade dos neurônios em diversas áreas.
Esses experimentos em humanos confirmaram o observado nos ratos. Existe uma primeira reação no cérebro que é seguida por uma ativação que se espalha por todo o cérebro e é duradoura. É essa segunda fase que corresponde à expressão da ansiedade e medo reportados por humanos.
Existem drogas como a ketamina que dissociam estímulos sensoriais das emoções provocadas pelo estímulo. Quando ratos ou humanos recebem uma dose de ketamina antes de receberem o jato de ar na córnea a sequência de eventos se altera.
Nos ratos é possível observar o fechamento imediato dos olhos e ativação inicial dos neurônios, mas os ratos abrem imediatamente os olhos e não mostram o desconforto subsequente. Sob ação da ketamina, a segunda fase da resposta, aquela ativação disseminada dos neurônios, não ocorre. O mesmo ocorre nos seres humanos sob efeito da ketamina. Ao receberem o jato de ar, eles fecham os olhos, os abrem imediatamente, e não relatam a sensação de desconforto e ansiedade característica da segunda fase da resposta. Isso demonstra que a ketamina bloqueia a segunda fase da resposta e a formação das emoções.
Esses resultados são os primeiros que relacionam os sentimentos com a ativação de neurônios no cérebro. Eles também mostram como a reação do cérebro a um estímulo provoca, num segundo momento, uma ativação que se propaga ao longo do tempo. Nossa imersão em emoções é resultado desses circuitos ativados. Não é muito, mas é um começo.
Mais informações: Conserved brain-wide emergence of emotional response from sensory experience in humans and mice. Science https://www.science.org/doi/10.1126/science.adt3971 2025
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