Giuliano Da Empoli, in his new book "A hora dos predadores" (The Hour of the Predators), draws a parallel between the arrival of Spanish conquistadors in the Aztec empire and the current state of democratic societies. He argues that digital technology, wielded by a new breed of "predators" such as Donald Trump, Javier Milei, Elon Musk, and Peter Thiel, is eroding democratic institutions.
Da Empoli highlights the alliance between big tech oligarchs and far-right politicians, united by their desire to dismantle established systems and circumvent regulations. This alliance exploits the engagement-driven logic of digital platforms, prioritizing attention over truth and blurring lines between fact and fiction in the political sphere. He argues that this isn't a sudden development, pointing to earlier instances such as Bill Clinton's policies that empowered tech companies.
The author suggests that these "predators" exploit public frustration with political gridlock, offering simplistic solutions that involve defying established norms. Their tactics, exemplified by Trump's bombastic style, create a state of perpetual chaos that hinders critical thinking and allows them to manipulate public opinion.
Da Empoli emphasizes the need for imposing "humility on machines." He criticizes the algorithmic decision-making prevalent in digital platforms and argues that these systems lack the democratic values necessary for maintaining a healthy public sphere. He suggests that the primary political challenge of the 21st century is deciding whether public decisions remain in human hands or are delegated to algorithms. He cites Brazil's actions under Justice Alexandre de Moraes as an example of attempts to combat this phenomenon, although the success of these measures remains uncertain.
No prólogo de seu novo livro, "A hora dos predadores", o cientista político italiano Giuliano Da Empoli traça um paralelo nada reconfortante. Ao analisar o estado atual do mundo democrático, ele se compara a um escriba azteca, que descreveria a chegada dos espanhóis no reino de Montezuma. Sabemos o que aconteceu em seguida. Mas, se os invasores do século XVI tinham a pólvora, a nova ameaça é digital, aponta o professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris.
Da Empoli é uma autoridade no estudo das ligações entre tecnologia, populismo e autoritarismo. Nesse novo ensaio, ele mostra como os oligarcas da big tech e os políticos de extrema-direita se aliaram para destruir as mediações democráticas. Se em seu livro anterior, "Os engenheiros do caos", a disrupção aparecia como instrumento de um punhado de outsiders, agora ela se tornou um método hegemônico. E os "predadores" - figuras como Donald Trump, Javier Milei, Elon Musk, Peter Thiel, entre outros - não podem mais ser considerados aberrações contemporâneas, mas herdeiros diretos de uma linhagem histórica de personagens que atuavam à margem das regras.
Nesta entrevista por telefone, Da Empoli explica por que as democracias precisam "impor humildade às máquinas", antes que sejam engolidas por elas.
Como essa "era de predadores" se diferencia do poder tradicional com o qual estávamos acostumados?
O predador é uma figura que atua em um mundo sem regras, onde o caos se tornou hegemônico. A única regra é a ação — uma ação que permite construir a própria realidade e impô-la aos outros. Esses predadores são na verdade, personagens até bastante clássicos. Não conseguimos entendê-los muito bem se olharmos apenas para as ciências políticas ou para a política dos últimos 20 ou 30 anos nas nossas democracias.
Para onde temos que olhar, então?
Nós os reconhecemos imediatamente nos textos de história mais antigos. Na história romana, ou mais tarde em Maquiavel, encontramos personagens que se parecem muito com os predadores de hoje. A diferença é que, agora, esses predadores são impulsionados pela estrutura tecnológica das big techs. Eu chamo isso de "insurreição digital": uma máquina muito poderosa, que só impulsiona os conteúdos mais extremos e que não aceita nenhuma regra.
Como se deu a aliança entre os oligarcas da big tech e os políticos extremistas?
Eles têm o mesmo objetivo: quebrar o sistema anterior e não estarem mais submetidos às leis. Eles querem derrubar as velhas elites, as antigas autoridades, a classe política, a mídia e as autoridades acadêmicas. É uma aliança muito poderosa, muito nova, e por isso muito difícil de combater.
E como isso funciona na prática?
Eu diria que os políticos estão apenas importando para a política a lógica de funcionamento das plataformas digitais. Nesse ecossistema, não existem critérios de verdadeiro ou falso, real ou construído, ou de direita e esquerda. A única coisa que importa é o que gera engajamento, o que capta a atenção do público. Quando você traz essa lógica para a política, é a esfera digital que impõe suas regras e seu tempo à democracia física. Ou seja, não é mais a democracia que coloniza o digital, é o digital que coloniza a democracia.
No livro, você mostra que esse movimento não foi repentino. Lá atrás, nos anos 1990, políticos como Bill Clinton já davam poder ilimitado para big techs...
Quando víamos chegar aqueles jovens da tecnologia, muito jovens na época, pensávamos que eram apenas empreendedores que queriam enriquecer. Mas, na realidade, eles traziam consigo um projeto de sociedade, uma proposta de governança alternativa. Eles consideram que a democracia é um sistema muito ineficiente, porque é lento, bloqueado por privilégios e interesses divergentes. Por isso, imaginam uma governança algorítmica, na qual são os algoritmos que tomam as decisões, e não mais as instituições democráticas.
Por que os eleitores se sentem atraídos por predadores?
O predador político de hoje se aproveita do fato de que uma parte importante da opinião pública acha que há restrições demais, e que, assim, não se consegue fazer nada. Diante dessa sensação de imobilismo, chega o predador político e oferece uma espécie de milagre. A única maneira de fazer isso, segundo ele, é quebrando as regras, porque essas regras seriam uma fraude criada pelas velhas elites contra o povo.
Você disse em uma outra entrevista que abandonou a ficção por que a realidade é mais imaginativa...
Paradoxalmente, a realidade já não precisa ser coerente. Na ficção, para que o leitor acredite, é preciso haver uma certa coerência. Já a realidade pode ser tão absurda quanto quiser, ela não tem essa obrigação.
Como os predadores usam o caos para manipular o público?
O caos se tornou o selo, a marca do poder e da dominação. O seu efeito é paralisar os adversários e capturar o público. O poder de Trump, por exemplo, é hipnótico. É um poder que gera uma espécie de estado de choque, porque a cada momento surgem anúncios bombásticos, transgressivos, que são imediatamente seguidos de outros, sem que haja tempo para processar o anterior. Isso desarticula o funcionamento básico da análise, e nos impede de nos defender e de nos proteger diante disso.
Por que as instituições não conseguem conter o avanço dos predadores?
Será impossível combatê-los se nossa conversa democrática continuar migrando completamente para a esfera digital e tecnológica, ou se não exigirmos que essa esfera adote os princípios fundamentais do debate democrático: respeito às regras, às minorias, e ao espaço público de discussão. As iniciativas de Alexandre Moraes colocaram o Brasil na vanguarda nessa área, mas não sabemos ainda se elas serão suficientes. O Brasil está na linha de frente daqueles que tentam se opor à liberdade total no espaço digital, que hoje impacta diretamente a democracia.
Trump, Milei, Musk e outras figuras que você define como predadores, distorcem o conceito de liberdade para justificar suas políticas?
É a liberdade dos lobos que esses personagens reivindicam. É a liberdade dos predadores. Só que nós sabemos que, na democracia, a liberdade tem que ser garantida por regras. Se você dá liberdade absoluta a alguém, dentro de uma democracia, essa liberdade ameaça a liberdade dos outros. Por isso, a exigência da regra, da lei, é algo fundamental.
Como é a sua relação com a tecnologia?
Tem uma frase muito bonita do poeta Rainer Maria Rilke. Ele disse que convivia mal com as máquinas fotográficas porque elas não tinham a humildade que toda máquina deve ter. As máquinas são importantes para o desenvolvimento humano e não sou um ludita nem um tecnófobo. Mas acho que, hoje, diante das redes sociais e da inteligência artificial, impor humildade às máquinas deveria ser um programa político. O grande divisor político do século XX era a oposição entre o público e o privado. No século XXI, esse divisor se torna outro: decisões públicas devem permanecer nas mãos dos humanos ou devemos confiar nos sistemas algorítmicos?
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