Judas traiu Jesus ou Jesus traiu Judas? - 17/04/2025 - Cotidiano - Folha


A theologian reexamines the portrayal of Judas Iscariot, arguing that his betrayal of Jesus may have been an act of obedience based on a misunderstanding, highlighting the complexities of faith and the potential for misinterpretations.
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Não há malhação de Pilatos ou do sumo sacerdote Caifás, autoridades que condenaram Jesus à morte. O maior vilão da história é Judas, o amigo que o traiu com um beijo. Ele é o personagem mais abominável da Páscoa cristã. Mas um teólogo está disposto a reabilitar essa figura.

Não imagine Jean-Yves Leloup como um intelectual ateu buscando provocar a fúria dos crentes ao revisar o status de Judas Iscariotes no colégio apostólico. Leloup, além de sacerdote da Igreja Ortodoxa, é tradutor de manuscritos dos evangelhos apócrifos, teólogo, psicólogo e autor de mais de 90 livros sobre espiritualidade cristã.

O objetivo de Leloup não é transformar Judas em herói, mas humanizá-lo. Ele não busca o "Judas histórico", mas o "Judas arquétipo", que simboliza as sombras presentes em cada pessoa e como todos somos capazes de fazer o mal acreditando estar fazendo o bem.

Leloup desenvolve essa reflexão a partir do "Evangelho de Judas", um apócrifo datado do século 4º d.C. Seu objetivo é ampliar a discussão em torno de Judas. Ele quer responder questões como: Judas traiu seu mestre apenas por ganância? E como interpretar o remorso que sentiu —que o levou a devolver o pagamento pela traição e, depois, ao enforcamento?

Diferentemente dos textos canônicos, os evangelhos apócrifos são antigos escritos cristãos que não foram incluídos no cânon bíblico porque não foram considerados pela Igreja como inspirados e, na maioria dos casos, não estavam ligados aos apóstolos ou às primeiras comunidades cristãs.

No "Evangelho de Judas", está escrito que Jesus teria pedido ao discípulo que o entregasse às autoridades que queriam sua morte. Assim, a traição de Judas seria, na verdade, um ato de obediência. E a história não termina aí.

Segundo Leloup, Jesus teria "enganado" Judas por saber que ele era um zelote —integrante de um grupo armado que lutava contra os romanos. Judas teria atendido ao pedido por imaginar que a prisão de Jesus desencadearia um conflito no qual o Messias, entendido como um libertador militar, se revelaria.

Leloup argumenta que, como Jesus não se revelou como líder marcial e, por ocasião de sua prisão no jardim do Getsêmani, não resistiu aos soldados, Judas sentiu-se enganado e traído por Jesus. Entrou em desespero e tirou a própria vida enforcando-se.

Leitores dos Evangelhos canônicos explicam a traição e o suicídio de Judas citando a passagem "Satanás entrou no coração de Judas" (Lucas 22.3). Leloup discorda. Para ele, a palavra Satanás significa "aquele que se opõe" a Deus. Assim, não se tratava do Diabo entrando no coração de Judas, mas de uma escolha consciente: ele assumiu o papel de "adversário" de Jesus ao entregá-lo aos sacerdotes.

Como esse olhar mais complexo sobre Judas pode ajudar cristãos hoje? A resposta vai em duas direções. A primeira é que cada cristão admita seu lado obscuro e reconheça que todos são capazes de traições e equívocos em suas interpretações sobre Jesus.

A segunda: Judas tinha certezas demais sobre quem era Jesus e sobre como Deus agiria na política do primeiro século. É preciso cautela com visões políticas que se baseiam em certezas religiosas absolutas sobre o bem e o mal.

Quando ouço políticos evangélicos, como Nikolas Ferreira, afirmando "Deus está do nosso lado", como fez na manifestação do dia 6 de abril, lembro de Judas —e de como convicções firmes sobre o bem e o mal podem ser enganosas.

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