Lina Meruane participa da Feira do Livro e da Bienal - 18/06/2025 - Ilustrada - Folha


Chilean writer Lina Meruane discusses her new books and her views on the conflict in Gaza at book fairs in Brazil.
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A escritora chilena Lina Meruane, uma das vozes mais provocadoras da literatura latino-americana da atualidade, defende que escritores e intelectuais não podem se omitir diante da destruição na Faixa de Gaza.

"A intenção de Israel já se revelou um genocídio massivo e coletivo", afirma ela. "Não se posicionar em relação a isso, para mim, é algo impensável, antiético e impróprio para escritores. Não é momento de ter medo nem de nos calarmos."

Meruane vem ao Brasil para participar tanto da Feira do Livro em São Paulo —onde realiza duas mesas, nesta quinta e sexta-feira— como da Bienal do Livro no Rio de Janeiro —onde fala no sábado. Nos dois eventos, ela lança "Sinais de Nós", livro autobiográfico sobre os traumas da ditadura chilena publicado pela Relicário.

O livro conta a história de sua infância num colégio de elite em Santiago, durante o governo de Augusto Pinochet. Já adulta, a narradora olha para trás e percebe sinais que quando criança não entendia —colegas que sumiam, pais que desapareciam e a presença de agentes armados na escola.

A mesma editora lança agora uma versão ampliada de seu "Tornar-se Palestina", obra de 2013 que ganha nova ressonância diante do atual cenário geopolítico. A edição brasileira tem tradução de Mariana Sanchez e prefácio do escritor Milton Hatoum.

A escritora descreve "Tornar-se Palestina" como o livro mais pessoal de toda sua trajetória. Nascida no Chile em família de origem palestina, ela relata sua viagem à Cisjordânia em meio a controles do Exército israelense, censura e vigilância. "Esse retorno à Palestina é uma espécie de encargo familiar. Por mais que eu nunca tivesse ido lá, me pareceu mais coerente falar em uma volta do que em uma viagem."

Meruane se depara com fronteiras materiais e simbólicas e com o desafio de reconstruir um vínculo interrompido por gerações. É uma travessia também simbólica. "O livro começa falando da perda do meu contato com a língua árabe e termina escrito em árabe", sublinha ela.

A escritora percorre, dessa forma, as lacunas de uma identidade marcada pela distância e pelo apagamento. "Foi preciso escavar minha própria história", diz, procurando evitar romantizações. "Não me interessa idealizar um corpo que resiste, pois esse corpo também pode ter contradições, com alianças complexas."

Inspirada pela britânica Virginia Woolf, que escreveu sobre a cidade de Londres em ruínas durante os bombardeios da Segunda Guerra Mundial, Meruane vê a literatura como ação política.

Segundo a escritora, há uma perseguição a comunicadores que revela o poder do discurso como instrumento de denúncia e mudança social. "As palavras fazem coisas. Por isso interessa tanto a Israel punir jornalistas e escritores", afirma, acrescentando que há tentativa de controle de narrativas em contextos de conflito como esse.

Elogiada pelo chileno Roberto Bolaño como uma das promessas mais radicais da literatura da América Latina, Meruane sugere em "Tornar-se Palestina" que o retorno —seja à geografia, à língua ou à história— também pode ser um gesto ético.

No inédito "Sinais de Nós", ela reafirma um compromisso com a escrita como forma de investigação. A autora destaca que suas narrativas "partem de perguntas e da necessidade de pensar um problema", mostrando que o processo de escrita é motivado por inquietações bastante singulares.

Sua literatura, marcada pelo tensionamento dos limites do corpo e da linguagem, tem a proposta de intensificar o real —sem buscar simplesmente representar a realidade, quer revelar as suas ambivalências.

"A ficção não falseia a realidade porque é justamente outra forma de contar o real. De maneira simbólica e talvez mais abstrata, se trata de sua intensificação. Falo de um afilamento da realidade porque escrevo ficção para testar limites, para ver até onde essa realidade pode chegar."

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