Marília Garcia pensa usando mãos em ótimo livro de ensaios - 20/06/2025 - Ilustrada - Folha


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Key Points

Marília Garcia's "Pensar com as Mãos" is a collection of essays on poetry. The book explores the process of writing poetry and the role of emotion in poetic expression.

Main Arguments

Garcia approaches writing through observation and meticulous procedure. She moves away from sentimentality and embraces precision.

The essays collected in the book, written between 2018 and 2023, cover critical reflections, studies, and contemporary poetry panoramas.

The author challenges the question 'Why don't you write with emotion?' by emphasizing the importance of touching and understanding things through language and the process of writing itself.

Crucial Details

  • Garcia's work is characterized by a reflective, personal approach reminiscent of Montaigne.
  • The book's structure includes six sections: "Contra a Poesia, Contra o Coração," "Inventário das Destruições," "Escrever com uma Tesoura," "Diálogos," "Abrindo a Escotilha, Fechando a Cidadela," and "É Bom Morar no Azul."
  • The book touches upon the works of significant poets like T.S. Eliot, Bocage, Drummond, Cecília Meireles, and Adília Lopes.
  • The title reflects Garcia's hands-on approach to writing and understanding; it's a physical and intellectual exploration of language.
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"Por que você não escreve com emoção?" Essa é uma pergunta que Marília Garcia já ouviu de muitas pessoas, como chegou a comentar em uma entrevista a Manuel da Costa Pinto no programa Entrelinhas, da TV Cultura.

Ainda que "emoção" tenha um sentido pouco preciso, a pergunta demanda o lirismo sentimental de um eu muito associado à poesia.

Só que Garcia frequentemente parte da observação exterior e da explicitação de procedimentos que impulsionam a escrita para, aí sim, espelhar manifestações "emocionais" —seja da poeta, seja do leitor. Pela via mais precisa das coisas, escapando de sentimentalismos.

É com esse senso de precisão comovida que chega ao público "Pensar com as Mãos", o livro de ensaios sobre poesia da poeta e tradutora, editado pela WWF Martins Fontes. Entre as publicações da autora estão "Um Teste de Resistores", "Expedição: Nebulosa" e "Câmera Lenta", ganhador do prêmio Oceanos em 2018.

Considerada uma poeta-ensaísta, com trabalho que incorpora a procura reflexiva e pessoal do gênero de Montaigne, realiza em "Pensar com as Mãos" seu primeiro livro de ensaios, propriamente. Reúne textos já publicados em revistas, sites ou jornais escritos, em sua maioria, de 2018 a 2023.

Há seis seções no livro: "Contra a Poesia, Contra o Coração", "Inventário das Destruições", "Escrever com uma Tesoura", "Diálogos", "Abrindo a Escotilha, Fechando a Cidadela" e "É Bom Morar no Azul". Entre reflexões críticas, cadernos de estudos, panoramas da poesia contemporânea e seleção de referências da teoria e tradição literária e das artes, o livro traz uma série de ensaios curtos.

O leitor habituado à poeta-ensaísta se depara, em "Pensar com as Mãos", com a ensaísta-poeta: o corte do verso que faz pausar ou avançar, a performance que fala o que faz e mesmo a ambiguidade da voz poética dão lugar a uma prosa sintética, perspicaz e direta ao ponto.

Em um dos ensaios, "Quem Está Falando?", Rosa, a filha de Garcia, é quem pergunta. Desde os três anos, quando leem uma história para ela, a menina interrompe com o questionamento "quem está falando?". Garcia elucida: "Por exemplo, quando estamos lendo 'Baleia na Banheira', de Susanne Strasser, que começa com um simples ‘É hora do banho!’, minha filha pergunta: ‘Mamãe, quem está falando?’"

A pergunta levanta a questão tão simples quanto complexa da voz do poema. O texto avança pelas vozes de T.S. Eliot, Bocage, Drummond, Cecília Meireles, Adília Lopes etc.

O não-saber da filha abre caminho para um percurso de pesquisa tateante, de coleta, corte, cotejo, aproximação e teste que é, afinal, o gesto do ensaio. "Pensar com as Mãos" remete ao movimento infantil de esticar as mãozinhas para tocar nas coisas e tentar compreendê-las.

Assim, soa obsoleta aquela pergunta "por que você não escreve com emoção?", já dirigida algumas vezes à Garcia e que chegou a virar verso da poeta em "Expedição: Nebulosa" —"por que você não escreve com/ emoção?/ alguém pergunta/ eu amarro a pergunta/ na ponta desse poema/ deixo tombar até o fundo/ do mar".

Não que a emoção não importe —na etimologia, emoção significa "mover", "deslocar", e nada mais inerente à literatura do que o deslocamento. Mas em "Pensar com as Mãos", Garcia, que sabe que a emoção está sobretudo nas coisas que a linguagem toca, e como é "emocionante" tatear o que ainda não se sabe, parece responder: "porque escrevo com as mãos".

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