Além de fortalecerem a cognição, os neurogames podem ajudar a melhorar a capacidade funcional de pessoas idosas com comprometimento cognitivo leve. É o que aponta um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros e publicado na revista GeroScience em janeiro deste ano.
Os neurogames, também chamados de treinamentos cognitivos digitais, são atividades mentais planejadas para estimular e aprimorar diversas funções do cérebro, como memória, atenção, raciocínio e resolução de problemas. “Os exercícios são baseados em princípios de neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de se aperfeiçoar e melhorar suas funções”, explica Rogério Panizzutti, professor do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autor sênior da pesquisa.
Já o comprometimento cognitivo leve (CCL) se caracteriza por um declínio cognitivo que vai além do envelhecimento normal, mas ainda não é grave o suficiente para ser classificado como demência. Nesse estágio, a independência funcional nas atividades cotidianas é preservada, embora a realização das tarefas possa ser mais lenta, menos eficiente e com maior propensão a erros. A fase, no entanto, representa uma janela crítica para prevenir ou retardar um declínio cognitivo mais grave.
“A partir de determinado ponto, o comprometimento cognitivo prejudica o funcionamento da pessoa. Ela passa a ter dificuldade em realizar as tarefas do dia a dia, perde a independência e passa a precisar da ajuda de outras pessoas”, destaca o professor. Com o tempo, as consequências da perda cognitiva podem chegar a uma dependência total.
No estudo, os neurogames foram usados para trabalhar as funções executivas de idosos com CCL, mas há outras aplicações. “Eles também podem ser usados, por exemplo, por pessoas jovens que estudam para concursos e querem trabalhar a atenção”, diz Cíntia Monteiro Carvalho, primeira autora do estudo e pesquisadora do Laboratório de Neurociências e Aprimoramento Cerebral (LabNACe). “Você pode trabalhar memória, funções executivas, linguagem. Depende do seu objetivo”.
O estudo contou com a participação de 66 participantes com mais de 60 anos e com comprometimento cognitivo leve. Eles foram divididos em dois grupos. Um passou por testes com neurogames, enquanto o outro participou de sessões com jogos digitais convencionais.
No fim da intervenção, que teve duração de 10 horas, o grupo do treinamento cognitivo digital apresentou uma melhora de 21% no desempenho funcional e de 36,75% no aprendizado em relação ao grupo que testou jogos convencionais.
Os resultados foram medidos por uma ferramenta chamada Canadian Occupational Performance Measure (COPM), que avalia como os próprios participantes percebem sua capacidade de realizar tarefas do cotidiano. “As pessoas se sentiam mais capazes e tinham performances melhores em suas atividades de vida diária”, detalha Panizzutti.
Para a realização dos testes, os pesquisadores usaram o BrainHQ, uma plataforma que oferece mais de duas dezenas de exercícios organizados em seis categorias principais: atenção, velocidade do cérebro, memória, habilidades sociais, inteligência e navegação. Os exercícios são adaptativos e se ajustam automaticamente ao desempenho do usuário para manter um nível equilibrado.
A plataforma está disponível em português e pode ser acessada por meio de computadores ou dispositivos móveis, mas não é gratuita. O usuário tem de pagar uma mensalidade.
Os pesquisadores trabalham em outras pesquisas relacionadas ao tema. Uma delas, de acordo com Cíntia, pretende entender como os exercícios físicos podem interferir nos resultados.
Outro projeto pretende usar estimulação elétrica transcraniana (tDCS) em regiões do cérebro associadas a incapacidades cognitivas. A ideia, conforme Panizzutti, é estimular essas áreas enquanto os pacientes jogam os neurogames.
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