A new production of Antônio Carlos Gomes's opera, 'O Guarani,' seeks to address its problematic portrayal of Indigenous peoples. Philosopher, Indigenous leader, and writer Ailton Krenak spearheaded the project, aiming to rectify the “enormous cultural damage” inflicted by the opera's long-standing, uncritical perpetuation of a stereotypical image of Indigenous individuals.
Krenak critiques the opera's depiction of Peri, the Indigenous character, as a “ridiculous caricature.” He notes that the opera's use of Italian and its narrative of an Indigenous person abandoning their beliefs for assimilation cause discomfort. Even Oswald de Andrade criticized Carlos Gomes's work as “horrible” in 1922. Krenak argues that prior criticisms lacked substantial engagement with the central issue, stating the opera 'depersonalizes' the Indigenous subject.
The new production, directed by Cibele Forjaz, incorporates Indigenous perspectives and actors. The staging uses a “double” approach, contrasting the traditional operatic portrayal of Peri with a contemporary Indigenous representation by David Vera Popygua Ju. The inclusion of Guarani musicians further highlights Indigenous cultural elements. The set design uses a metaphor from Eduardo Viveiros de Castro, symbolizing the conflict between the rigidity of the colonizer and the fluidity of Indigenous life.
The production will incorporate the original libretto and music while promoting discussion and acknowledging the opera’s flaws. The opera’s portrayal of assimilation as a form of genocide is a central theme addressed in the production. The new production aims to foster a more nuanced understanding of Indigenous experiences and to spark important conversations about historical representation.
Não há meias palavras. “Peri é uma caricatura de índio ridícula, a que estamos sujeitos há 150 anos.” Assim o filósofo, líder indígena e escritor Ailton Krenak se refere ao personagem da ópera O Guarani, de Antônio Carlos Gomes. “Os povos originários se sentem ofendidos pela narrativa da ópera. E ela traz um dano cultural enorme por ter sido perpetuada acriticamente por tanto tempo”, completa.
É com isso em mente que Krenak aproximou-se do projeto de uma nova produção da ópera, que estreia nesta sexta-feira, 12, no Teatro Municipal de São Paulo. Ele assina a concepção da produção – a direção cênica e a reflexão sobre como levar essa discussão para o palco ficaram a cargo da diretora Cibele Forjaz. “O Guarani nos propõe esse tema relacionado à identidade, à relação com o outro”, ela explica.
Quando subiu ao palco pela primeira vez em Milão, em 1870, O Guarani, baseado no romance de José de Alencar, foi um enorme sucesso. Pouco depois, no Brasil, impacto semelhante. O País enfim tinha uma ópera vista como essencialmente nacional, cujo herói era um dos personagens-símbolo da arte brasileira do século 19: o indígena.
Mas o tempo passou. E o fato da ópera “essencialmente nacional” ser cantada em italiano, em uma linguagem musical europeia – e retratar um indígena que desiste de suas crenças para ser aceito pelo colonizador português e se casar com a jovem Ceci começou a gerar certo desconforto já nas primeiras décadas do século 20, com autores como Oswald de Andrade. “Carlos Gomes é horrível”, ele escreveu em um texto conhecido de 1922, meses antes da realização da Semana de Arte Moderna.
Para Krenak, porém, a crítica modernista se resumiu “a piadinhas sem grande consequência”, sem que se fizesse uma discussão de fato a respeito da questão. “O Guarani... Não sei se o verbo existe, mas a obra ‘despessoa’ o sujeito e o transforma em uma figura mítica. E uma pessoa mitológica não precisa de comida, de terra, de vacina.”
O filósofo acredita que sua concepção, na qual trabalhou com o artista Denilson Baniwa e com a dramaturgista Ligiana Costa, pode despertar incômodo no público mais conservador. “A ópera estará lá, todo o libreto, toda a música. Mas temos legitimidade para discuti-la e não faz sentido tentar nos desautorizar afirmando que se trata de uma obra consagrada.”
Cibele Forjaz acredita que, em O Guarani, o “sentido de integração nacional, de catequese, e o idílio amoroso entre Peri e Ceci servem como símbolo da formação de uma identidade na qual o invadido precisa ser vestir da cultura do invasor”. “Essa integração é uma forma de genocídio e extermínio. Toda a luta do povo indígena nos últimos cem anos é o oposto disso, é o direito à diferença, a culturas vivas, que dialogam com o contemporâneo a partir de suas crenças, culturas e línguas”, explica a diretora.
Para dar forma a essa ideia, a diretora trabalhou a noção do “duplo”. De um lado, está o cantor lírico interpretando Peri, cantando em italiano. E, de outro, estará o ator David Vera Popygua Ju, do povo guarani Mbya. Dele veio uma sugestão importante, conta Cibele: um guarani nunca está sozinho, como acontece na ópera. E a montagem ganhou então um grupo com músicos guaranis que estará no palco.
Os cenários vão evocar uma metáfora do Padre Antonio Vieira, recuperada pelo antropólogo Eduardo Viveiros de Castro em O Mármore e a Murta. A rigidez do mármore está associada ao colonizador, enquanto a murta, a planta, está sempre em movimento. “Serão três planos”, explica Cibele. “A obra de arte, pois é importante que a força da ópera esteja íntegra. Uma pedreira de mármore. E, atrás da pedreira, a aldeia, que começa invisível, invisibilizada, e vai aparecendo ao longo da ópera, crescendo, até atravessar a pedreira”, conta a diretora.
“Vamos criar arestas, encontros, desencontros, tensões a partir da beleza da ópera, da música. E pensar também como hoje é dominante a violência com relação à terra, o clima. Se não mudarmos nossa atitude, criamos nosso fim. E ouvir pensadores indígenas sobre o tema é ver como estão avançados. Eles mostram que não há separação entre cultura e mundo natural, entre nós e a natureza.”
Dois elencos vão se dividir na produção. Nos dias 12, 14, 17 e 20, Peri será vivido pelo tenor Atalla Ayan; Ceci, por Nadine Koutcher; Gonzales, por Rodrigo Esteves. E, nos dias 13, 16 e 19, assumem os papeis Enrique Bravo, Debora Faustino e David Marcondes. Em todas as récitas, Licio Bruno interpreta o Cacique. A regência e direção musical é de Roberto Minczuk.
Theatro Municipal (Praça Ramos de Azevedo, s/nº). 6ª (12/5), 3ª (16/5), 4ª (17/5) e 6ª (19/5), 20h. Sáb. (13/5), Dom. (14/5) e Sáb. (20/5), 17h. R$ 12 / R$ 158
A Filarmônica de Minas Gerais está lançando um álbum no qual registrou as aberturas, prelúdios e passagens orquestrais das óperas de Carlos Gomes. Está lá a famosa abertura de O Guarani, talvez sua obra mais conhecida. Mas o disco revela a diversidade do trabalho do compositor e o modo como sua música se desenvolveu ao longo do tempo.
Carlos Gomes chegou à Itália em um momento de transição na história da ópera, entre a influência de Verdi e um início de abertura com relação àquilo que acontecia na música alemã e francesa, por exemplo. Mais do que outros autores, ele soube incorporar essas influências em suas obras com o passar do tempo – e o disco, lançado na Coleção Música do Brasil, do selo Naxos, e regido por Fabio Mechetti, recria com precisão essa diversidade que não se costuma atribuir ao compositor brasileiro.
Entre os destaques do álbum, estão o Noturno, da ópera Condor, e a Alvorada, de Lo Schiavo. A orquestra também registrou, a partir de novas edições das partituras feitas pelo projeto Musica Brasilis, as aberturas de Maria Tudor, Salvador Rosa, Fosca, Joanna de Flandres, A Noite do Castelo e, claro, O Guarani.
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