O mestre português e a língua brasileira - 04/06/2025 - Sérgio Rodrigues - Folha


AI Summary Hide AI Generated Summary

Key Argument: Diverging Portuguese

Fernando Venâncio's book, "Assim Nasceu uma Língua," posits an irreversible divergence between European and Brazilian Portuguese, affecting lexicon, semantics, morphology, phraseology, pragmatics, and syntax.

Perspectives

The author contrasts the Brazilian perspective of linguistic independence with the view from Portugal. While Brazil's linguistic freedom is highlighted as a positive, the question of whether Brazil successfully navigates its independent linguistic path is raised.

Brazilian Normative Language

The article stresses the need for careful development of a Brazilian linguistic norm, differentiating between necessary modernization and the unchecked acceptance of informal speech.

  • Concerns are raised about conflating updated linguistic norms with a rejection of rules and structure.
  • The author cautions against the idea that a standard Brazilian Portuguese would simply be a patchwork of regional variations.

Future of Portuguese

The discussion touches upon the political aspects of official separation between European and Brazilian Portuguese, suggesting that while structural differences are significant, official separation might not occur.

Recommended Readings

The article recommends two books for further reading: "Assim Nasceu uma Língua" by Fernando Venâncio and "Gramática do Português Brasileiro Escrito" by Francisco Eduardo Vieira and Carlos Alberto Faraco.

Sign in to unlock more AI features Sign in with Google

O livro "Assim Nasceu uma Língua" (Tinta-da-China), do linguista português Fernando Venâncio, morto no último dia 30, aos 80 anos, termina apontando o futuro, no qual vê o português europeu e o brasileiro tomando cada qual seu rumo.

Afirma Venâncio que "a língua materna de brasileiros e a de portugueses entraram numa deriva irreversível que tornará, cada dia que passa, mais difícil reconhecer como seus o léxico, a semântica, a morfologia, a fraseologia, a pragmática, e mais do que tudo a sintaxe, dos outros".

Dessa distância (tanto mar, tanto mar), uma prova é o fato de não haver "traduções lusófonas". Pois é, aquelas que seriam feitas para leitores de todos os países falantes de português —como ocorre em inglês e espanhol— "nunca existiram e nunca existirão".

Até aí, nada muito diferente do que afirmam estudiosos brasileiros de gramática e linguística de algumas décadas para cá. A novidade da contribuição de Venâncio deve ser buscada numa questão de ponto de vista.

Anos atrás, em seu ativo perfil no Facebook —onde era generoso com leitores de boa-fé e fazia picadinho dos sabichões—, o linguista trouxe uma perspectiva d’além-mar ao que por aqui é questão de soberania cultural.

"No Brasil, Portugal abandonou a língua portuguesa à sua sorte", escreveu. "E ainda bem! Pense-se na uniformidade lexical, gramatical e ortográfica que a Espanha impõe como ideal à América de fala espanhola." Deixado sozinho, o português brasileiro "pôde desenvolver em invejável liberdade a sua norma, e vive bem nela".

Que há uma norma brasileira é difícil negar: a repulsa que nossa língua escrita desperta hoje em gordas fatias da população portuguesa —"gente visivelmente de poucas letras, e poucas luzes", diz Venâncio— é reação a uma norma alienígena. Mas será que vivemos bem com isso?

Nesse ponto recomendo cautela. O trabalho de sistematizar uma língua-padrão que espelhe aquela praticada por brasileiros letrados, jogando fora o que é pegadinha, servilismo e entulho lusófilo, ainda é pouco compreendido por grande parte da população.

Confunde-se atualização normativa, trabalho sério e pedagogicamente fundamental, com o reino da oralidade pura e o deboche às regras. Convém ir ao dicionário para recordar o que significa "normativa".

Acredita-se —ou se finge acreditar— que a norma culta brasileira se perderá numa colcha de retalhos de usos regionais, como se fôssemos crianças incapazes de pôr ordem em nossa própria bagunça sem a intervenção do paizão tuga.

Se o português brasileiro vai se separar "oficialmente" do lusitano é papo mais político que linguístico. Talvez nunca aconteça. Estruturalmente, trata-se de línguas cada vez mais distintas, ainda que suas normas cultas conservem grandes semelhanças.

A quem quiser entender melhor o que é atualização normativa, recomendo a "Gramática do Português Brasileiro Escrito" (Parábola), de 2023. O livro é assinado por um linguista cearense, Francisco Eduardo Vieira, e um paranaense, Carlos Alberto Faraco. E não é que eles se entendem bem?

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

Was this article displayed correctly? Not happy with what you see?

We located an Open Access version of this article, legally shared by the author or publisher. Open It
Tabs Reminder: Tabs piling up in your browser? Set a reminder for them, close them and get notified at the right time.

Try our Chrome extension today!


Share this article with your
friends and colleagues.
Earn points from views and
referrals who sign up.
Learn more

Facebook

Save articles to reading lists
and access them on any device


Share this article with your
friends and colleagues.
Earn points from views and
referrals who sign up.
Learn more

Facebook

Save articles to reading lists
and access them on any device