The article explores the anxieties of certain Portuguese speakers, labeled as 'falantes apavorados' (anxious speakers), who view language changes as threats to the purity of the language.
These speakers often oppose modern linguistic usage and variations, particularly in Brazilian Portuguese, seeing them as violations of a perceived ideal standard of the language. The author, a professional writer specializing in Brazilian Portuguese, challenges such rigid views.
The author argues that certain grammatical rules, such as the separation of prepositions and articles, are unnecessarily complex and hinder the adoption of written Portuguese by millions of Brazilians. They advocate for a more streamlined, accessible approach.
The author suggests that the resistance to change stems from socio-political factors, where strict grammar rules are used to maintain hierarchies and distinguish between high and low forms of the language. This perspective frames the issue as not solely linguistic but also social and political.
Ultimately, the author calls for abandoning outdated rules that are considered unnecessary barriers to writing in Portuguese, urging for a less restrictive use of the language to foster better communication and inclusivity among Brazilian speakers.
Escrevendo profissionalmente sobre a língua portuguesa brasileira já faz um quarto de século, esbarrei muitas vezes com a figura do falante apavorado.
O falante apavorado trata a língua como se ela fosse uma cristaleira cara que, herdada dos avós, decora o salão onde seus filhos jogam futebol. Vive em sobressalto, o coitado, à espera do chute forte que vai estilhaçar seu tesouro.
Um elitismo confuso, misturado a bastante ignorância linguística, pode até levá-lo a mover uma acusação de lusocídio contra quem escreve brasilidades como "Se oriente, rapaz" ou "Tinha uma pedra no meio do caminho".
Imagino que sejam uma minoria pequena, mas não sei. O fato é que de vez em quando um deles me acusa de ser um vândalo que ensina a fuzilar a concordância e a escrever gato com jota.
Embora a acusação seja vazia, não vou negar que magoa um pouco. Logo eu, pô, que desde pequeno arrasto uma asa bandeirosa pela tal de língua portuguesa.
Eu que decorei poemas ribombantes para recitar na escola, bestificado com a sinfonia das palavras, e nunca mais os esqueci –embora tenha renegado aquilo um milhão de vezes pela vida.
Sempre que trato da atualização normativa do português brasileiro, tarefa cívica para a qual nossa línguística está madura, vem um falante apavorado me chamar de destruidor do idioma.
Você aponta alguma aresta que pode ser aparada na relação entre uma norma culta idealizada e a norma culta praticada de fato no país. Sugestão, pensando bem, bastante modesta.
Um exemplo da semana passada: minha crítica à regra brasileira de separar, por escrito, preposição e artigo em frases como "a hora de a onça beber água" ou "o fato de a noite ser fria".
A regra é besta, mas merece mais algumas palavras. Mesmo relativizada por nossos melhores gramáticos tradicionais, perdura nos meios editoriais, jurídicos, acadêmicos e jornalísticos do país.
Não é que seja especialmente idiota –embora seja um pouco– escrever "de o" em vez de contraí-lo em "do", como fazemos todos os lusófonos ao falar. Idiota mesmo é afirmar que só pode ser assim.
Ah, mas não tem como ser diferente, se apavora ainda mais o falante apavorado. Diz ele que o fato da (opa) onça ser sujeito de uma nova oração impede a contração. Por quê? Não faz sentido. A onça não deixa de sentir sede porque alguém juntou duas palavras.
Os portugueses não perdem tempo com isso. Eu sei, nós não ligamos para o que os portugueses pensam da nossa língua. Só que neste caso eles têm razão.
Num idioma saudável, pruridos pedantes como esse não são base legítima para um divórcio tão desastroso e desnecessário entre forma e expressão.
O conservadorismo do falante apavorado é mais político do que linguístico. É preciso haver marcas, selos, carimbos para separar os falantes do alto e os falantes do baixo português. Nada melhor para isso do que certas pegadinhas, confere?
Passou da hora da gente se livrar de entulhos como esse, tornando nosso português escrito menos hostil aos milhões de brasileiros que lutam para dominá-lo nos bancos escolares.
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