Brazilian Supreme Court Justice Alexandre de Moraes suspended the extradition of Bulgarian drug trafficker Vasil Georgiev Vasilev in response to Spain's refusal to extradite Brazilian blogger Oswaldo Eustáquio. Moraes argued this violated the principle of reciprocity in the Brazil-Spain extradition treaty.
Critics argue Moraes' decision was rash and lacked due consideration, equating a drug trafficker with a blogger and harming Brazil's image. They suggest diplomatic avenues should have been explored before such a drastic measure. The decision also risks Vasilev fleeing after being placed under house arrest.
Spain's National High Court deemed Eustáquio's case politically motivated, preventing extradition under the treaty's stipulations against extraditing for political offenses. This raises questions about the true nature of the charges against Eustáquio.
The incident underscores concerns about potential imbalances within Brazil's judiciary and its international repercussions. It casts doubt on the ability to fairly punish those involved in past coup attempts. The potential escape of Vasilev would further damage Brazil's judiciary and undermine Spain's criminal justice system.
O bom senso costuma levar uma surra quando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes se irrita com algo ou alguém que o contrarie. Fiel à aura mercurial que cultiva com denodo, Moraes suspendeu o processo de extradição do búlgaro Vasil Georgiev Vasilev – considerado pelo governo espanhol um traficante de drogas com atuação em Barcelona – imediatamente após a Justiça da Espanha negar a extradição do blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio, foragido da Justiça brasileira naquele país.
Segundo Moraes, a decisão de não extraditar Eustáquio, tomada pela 3.ª Seção Penal da Audiência Nacional, uma das mais altas instâncias judiciais da Espanha, teria violado o princípio da reciprocidade inscrito no acordo de extradição firmado entre Brasil e Espanha em 1988 e entronizado no ordenamento jurídico pátrio pelo Decreto 99.340/1990. Pode até ser, mas a reciprocidade não é um “toma lá, dá cá” automático. Espera-se de qualquer juiz a temperança necessária para uma avaliação mais detida das implicações das decisões que toma, um cuidado que Moraes decerto não teve.
A reciprocidade nos processos de extradição não deveria ser tratada como uma barganha rasteira, mas como um princípio que visa a garantir a prevalência do melhor interesse da Justiça de duas nações amigas e soberanas. Ao colocar o caso do blogueiro no mesmo patamar que o de um traficante de drogas, Moraes não apenas rebaixou o nível do debate jurídico entre Brasil e Espanha, como também prestou um desserviço à imagem do STF, já tão conspurcada pelo ativismo exacerbado de alguns de seus membros.
Moraes poderia perfeitamente ter aguardado as explicações solicitadas à Embaixada da Espanha em Brasília antes de tomar uma decisão tão açodada e perigosa. O ministro poderia, ainda, requisitar o auxílio do governo, por meio do Itamaraty, para tentar convencer as autoridades espanholas sobre a importância de Eustáquio responder pelos graves crimes de que é acusado aqui no Brasil. Mas, bem ao seu estilo, Moraes optou por pisar no acelerador e, pasme o leitor, ordenou a soltura do búlgaro – preso em Mato Grosso do Sul em fevereiro deste ano – como corolário da suspensão do processo de extradição do traficante no STF.
O resultado dessa picuinha é a nada desprezível possibilidade de Vasilev fugir do Brasil, agora que foi enviado à prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica. Se isso acontecer, será uma humilhação para o Poder Judiciário brasileiro e uma derrota para o sistema de persecução criminal da Espanha. Não é pouca coisa o que está em jogo.
Segundo a Audiência Nacional, os fatos que instruíram o pedido de extradição de Eustáquio teriam “evidente ligação e motivação política”, o que, em tese, impede sua entrega às autoridades brasileiras com base no acordo de extradição. De fato, o artigo IV, item 1, alínea f do Decreto 99.340/1990 é taxativo ao determinar que não será concedida a extradição “quando a infração construir delito político ou fato conexo”.
A esse propósito, é preciso registrar que é bastante significativo que a Justiça da Espanha – país plenamente democrático, governado pela esquerda e amigo do Brasil, portanto insuspeito de simpatias por bolsonaristas e afins – considere que o processo contra esse blogueiro é “político”. Deveríamos prestar atenção nisso.
Mas, claro, o ministro Alexandre de Moraes tem certeza absoluta de que o processo contra Oswaldo Eustáquio não tem nada de político, provável razão pela qual reagiu de maneira destrambelhada para retaliar a Justiça espanhola, relaxando a prisão de um perigoso criminoso internacional. Para o sr. Moraes, ao que parece, um traficante e um blogueiro que falou demais são ameaças semelhantes à sociedade.
É esse tipo de desequilíbrio que contribui para desmoralizar o esforço das instituições para punir todos os que participaram da trama golpista que assombrou o País. Mais uma vez, é preciso insistir: o momento excepcional que talvez justificasse medidas excepcionais já passou faz tempo.
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